Minas estuda criar parque em área de mineração

O Globo, O País, p. 16 - 29/04/2012
Minas estuda criar parque em área de mineração
Projeto da Vale prevê extração de 24 milhões de toneladas de ferro onde nascem afluentes de rios

SÃO PAULO. A proposta de criação de um novo parque nacional, na Serra da Gandarela, em Minas Gerais, mobiliza ambientalistas e mineradoras. As consultas públicas começam em 7 de maio, no município de Raposos. O que está em jogo é a preservação de uma área de 35.200 hectares em pleno Quadrilátero Ferrífero, onde é possível extrair minério de ferro. Porém, um projeto da Vale na área, a última ainda preservada no quadrilátero, prevê a extração de 24 milhões de toneladas do minério. A negociação em torno da delimitação do parque estava sendo feita desde 2010 por grupos de trabalho, mas o Ministério Público Federal foi à Justiça e obteve liminar para garantir a realização das consultas públicas, que deverão ocorrer também em Caeté, Ouro Preto, Santa Bárbara, Rio Acima e Belo Horizonte.
- Esta é uma discussão que tem de ser feita em público. Todos os interesses são legítimos e não se pode limitar o debate a um grupo. A população tem de ser ouvida - diz a procuradora Zani Cajueiro de Souza, autora da ação civil pública para a realização das consultas.
A Serra do Gandarela abrange os municípios de Caeté, Nova Lima, Raposos, Rio Acima, Barão de Cocais, Itabirito, Ouro Preto e Santa Bárbara. Apesar da proximidade com a capital mineira, é um oásis de preservação.
Na área do futuro parque há 1.054 nascentes
A proposta de transformação em parque nacional, área de proteção integral, nasceu de um estudo do Projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais, criado para lutar por melhorias nas condições ambientais e na qualidade de vida. Outras 25 organizações não governamentais aderiram.
Segundo o estudo, na serra estão 1054 nascentes, entre elas as do Rio das Velhas e do Rio Conceição, afluentes dos rios São Francisco e Doce. Segundo o MPF, a serra fornece 60% da água consumida por Belo Horizonte e 43% da água que serve a Região Metropolitana.
Analista do Instituto Chico Mendes de Conservação Ambiental (ICMBio), o biólogo João Madeira diz que na Gandarela está o sistema de canga, que funciona como uma esponja dura e porosa, por onde se infiltra água.
Abaixo dele está a rocha itabirito, que tem fissuras. A água ultrapassa essas duas camadas e forma abaixo delas um grande aquífero, uma reserva estimada de 1,6 bilhão de metros cúbicos de água. Há pontos onde a água aflora, dando origem às nascentes.
A proposta original era criar um parque nacional de 38.200 hectares. Segundo o ICMBio, as negociações feitas já levaram à retirada de 3 mil hectares destinados a atividades de dez mineradoras. Por enquanto, o espaço destinado ao projeto Apolo, da Vale, ficaria com 1.700 hectares. A empresa teria ainda 200 hectares para a Mina Baú. Além do minério de ferro, haverá exploração de ouro. (Cleide Carvalho)

O Globo, 29/04/2012, O País, p. 16
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