Há 24 anos bióloga protege Superagüi

Correio do Litoral.com - http://correiodolitoral.com/ - 07/03/2014
A bióloga Guadalupe Vivekananda tinha um sonho, como todos os jovens, ao sair da Universidade Federal do Paraná (UFPR): contribuir com a conservação da natureza. Só não sabia que esse sonho se tornaria uma verdadeira paixão.

Há 24 anos, ela convive com as comunidades do Parque Nacional do Superagüi, unidade de conservação localizada em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná. "Quando fico muito tempo ausente, fico com coceira na mão para arrumar minha mochila e ir para o Parque. É um caso de amor", afirma Guadalupe, primeira mulher a chefiar um parque nacional no Paraná.

Guadalupe está envolvida com Superagüi desde a criação do Parque, em abril de 1989, quase a mesma época em que ingressou no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). Naquele fim de década, poucas mulheres faziam parte do quadro de funcionários das unidades de conservação, sobretudo as que tinham por formação a Biologia - a predominância eram engenheiros florestais e agrônomos, a maior parte homens.

"Vislumbrei uma oportunidade de abrir uma porta para os biólogos trabalharem com conservação, a partir da criação do Parque Nacional do Superagüi e consegui", comemora Guadalupe, que só ficou afastada da unidade por um ano, quando ocupou a coordenação nacional das unidades de conservação do Ibama, agora Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), criado a partir da segregação do Ibama, em 2007.

A vida no local de trabalho

A vida como gestora de uma unidade de conservação traz consigo um desafio (permanecer no local onde se trabalha) que Guadalupe conseguiu aproveitar a seu favor. Ocupando um quarto no alojamento no interior do Parque, a bióloga pôde conhecer de perto as características de Superagüi e contribuir com a sua implantação de seu plano de manejo, além de interagir bastante com as comunidades do entorno e de dentro do Parque. Aos poucos, conseguiu conhecer cada um dos moradores das 13 comunidades localizadas ao redor do Parque e no seu interior - algo em torno de 1.000 pessoas que têm na pesca artesanal sua principal fonte de subsistência.

Ela também colaborou, ao longo desses 24 anos, com algumas pesquisas e trabalhos educativos para a conservação de duas espécies nativas do Parque: os papagaios-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), cuja revoada ao entardecer é um espetáculo à parte, e o mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara). Por muitos anos foi a coordenadora da espécie Leontopithecus caissara dentro do Comitê Internacional para Manejo e Conservação das Espécies de Micos-Leões. As duas espécies estão ameaçadas de extinção e são endêmicas da Mata Atlântica, não sendo encontradas em nenhum outro local do planeta.

Guadalupe ainda traz na memória outra conquista que só foi possível porque passou a maior parte de seu tempo no Parque: o combate à especulação imobiliária. O trabalhou consistiu na conscientização dos moradores de Barra do Superagüi e na Ilha das Peças, comunidades situadas no entorno do Parque, para que não vendessem os seus terrenos.

Como a região tem potencial turístico e possui 38 km de praias virgens, é comum os moradores serem procurados por empresários do ramo imobiliário para vender as propriedades ou para construir casas de veraneio. Diferente de outras áreas ao longo do litoral paranaense e mesmo brasileiro, no Parque Nacional do Superagüi os próprios moradores são os empreendedores, donos de pousadas, restaurantes, padarias e embarcações.

Sobre esses trabalhos envolvendo a proteção de Superagüi, Guadalupe sente-se orgulhosa. "É um privilégio participar de trabalhos que resultaram na conservação da unidade e pelo menos de duas espécies, ameaçadas de extinção. É a minha contribuição com a conservação da natureza", reflete.

Apesar de seu nome e história confundirem-se com a unidade de conservação paranaense, sua colaboração vai além do estado. Ela atua, desde 1989, com a conservação em nível nacional, pois é conselheira voluntária da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, sendo uma das responsáveis por analisar projetos de conservação de várias partes do país que concorrem ao apoio da instituição. Na região do Parque Nacional do Superagüi, por exemplo, onze iniciativas já foram apoiadas por essa instituição.

Tanta dedicação, entretanto, fez com que Guadalupe abrisse mão da sua vida pessoal. "Fiquei vivendo por muitos anos no Parque, com saídas esporádicas, quase como um período de internação. Foi muito rico porque vivi perto da natureza e convivi com as pessoas da ilha, mas perdi alguns encontros familiares e não tive filhos", afirma a bióloga, que vive um novo momento, casada, e dividindo as tarefas, sem se lamentar. "O fato de ainda estar à frente deste mesmo trabalho mostra que o meu sonho, de certa forma, foi concretizado" afirma orgulhosa, completando: "ainda não terminei, tem muita coisa por fazer".

Parque Nacional do Superagüi

Localizado no litoral norte do Paraná, o Parque Nacional do Superagüi ainda é pouco explorado por turistas. O nome do Parque vem do tupi-guarani 'so'o pira guy' e significa, segundo pesquisa do biólogo Fernando Straube, 'lugar onde tem muita carne de peixe'. Desse modo, é uma alusão às inúmeras espécies que habitam suas ilhas, como a das Peças e a Ilha do Pinheiro.

A unidade possui 38 km de praias desertas, que podem ser exploradas a pé ou de bicicleta. No Parque é possível observar a revoada de papagaios-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) ao entardecer e também os botos com seus filhotes no trapiche do Rio das Peças.

O acesso é feito somente por mar, a partir de Paranaguá, numa viagem que pode levar até três horas. Os horários podem ser confirmados com a Associação de Barqueiros do Litoral Norte do Paraná (www.abaline.com.br).


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