PA: Família de ativistas ambientais é assassinada

Nova Democracia - https://anovademocracia.com.br/noticias/ - 25/01/2022
PA: Família de ativistas ambientais são assassinados

Welita Barbosa

No dia 9 de janeiro, foram encontrados corpos de três pessoas de uma família de ativistas ambientais assassinados por pistoleiros. No local do crime foram detectados cerca de 18 projéteis de bala ao lado da casa onde a família morava, na ilha da cachoeira do Mucura, localizada às margens do rio Xingu, no município de São Félix do Xingu, Pará (PA).

As vítimas foram identificadas como José Gomes, conhecido como Zé do Lago, de 61 anos, sua esposa Marcia Nunes Lisboa, 39 anos, e uma das filhas do casal, Joane Nunes Lisboa, de 17 anos.

O filho mais novo do casal encontrou os corpos em locais diferentes. O pai e a filha estavam próximos à residência e a mãe na beira do rio Xingu, ambos em estado de decomposição. Segundo a perícia, o crime teria acontecido pelo menos três dias antes de serem encontrados os corpos.

A família residia há mais de 20 anos em uma terra ocupada em área de jurisdição do Instituto de Terras do Pará (Iterpa), a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, local com mais de 1,5 milhões de hectares. Os ativistas eram conhecidos pelo trabalho que realizavam na proteção de tartarugas e tracajás (quelônios) na região. Além do trabalho de proteção às tartarugas, o casal assassinado desenvolvia projeto de preservação da floresta, trabalhos estes reconhecidos pela população da região.

As práticas reivindicativas da família se chocam com práticas do latifúndio

Segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), cerca de 2 mil km² foram desmatados em toda a Amazônia Legal apenas em julho de 2021, a imensa maioria por empreendimentos latifundistas, num aumento de 80% se comparado ao mesmo mês no ano anterior. Desse montante, quase 37% das derrubadas ocorreram no Pará.

Aproximadamente 48% da área de floresta destruída neste período se concentrou em apenas quatro cidades: Altamira, São Félix do Xingu, Itaituba e Novo Progresso. Na APA Triunfo do Xingu, onde vivia a família, entre 2018 e 2020, mais de 2 mil árvores foram derrubadas por hora.

Em entrevista ao portal Revista Piauí, Paulo Barreto, engenheiro florestal e pesquisador do Imazon, afirmou: "Esse aumento recente das taxas de desmatamento da Amazônia tem se dado em grandes porções de terra. É muito caro fazer grandes desmatamentos, então, em geral, quem está por trás disso é gente capitalizada", referindo-se a latifundiários e corporações capitalistas burocráticas.

Os dados apontam ainda que os desmatamentos em larga escala na região são consequências diretas da grilagem de terras devido ao avanço dos latifundiários para abrir espaço para as grandes monoculturas, criações de gados, além da exploração do minério promovida por monopólios imperialistas, garimpos ilegais, roubo de madeira e construção de grandes obras de infraestrutura como a Usina Belo Monte construída nas margens do Rio Xingu (PA) .O Instituto Socioambiental (ISA) afirma que 40% do território da APA Triunfo do Xingu foram convertidos para outros fins, principalmente a pecuária.

Dentre os reacionários que atuam na região está o latifundiário e banqueiro Daniel Dantas, que foi preso em um escândalo de corrupção em 2008 e, depois disso, passou a investir no setor pecuário e na especulação de terras brasileiras. A chamada AgroSB (Agropecuária Santa Bárbara Xinguara), controlada por Dantas - local onde um trabalhador foi assassinado após reivindicar seus direitos - desmatou 929 hectares de floresta na APA Triunfo do Xingu. Além disso, o latifúndio de nova roupagem (chamado "agronegócio) já teve uma de suas fazendas multadas por desmatamento ilegal e é investigada pela prática de grilagem.

Um grande esquema de consórcio entre o latifúndio para maquiar a venda ilegal dos gados ocorre também na região, conforme noticiado pelo portal Repórter Brasil. Um dos casos emblemáticos é do latifundiário Valdiron Aparecido Bueno, que alega ser proprietário da Fazenda Três Poderes, da Fazenda Sossego e de outros latifúndios, sem possuir nenhuma titulação fundiária e segue com registro de fluxo de entrada e saída de gado nestes locais ação sustentada pelo esquema.

Pará o estado onde mais se mata camponeses

Historicamente o Pará é o estado com os maiores números de assassinatos de camponeses em luta por seu direito à terra e é também onde germina as sementes de lutas avançadas como a memorável e gloriosa Guerrilha do Araguaia. Em 1996, um ano após a Heroica Batalha Camponesa de Santa Elina em Corumbiara (RO), o estado foi o palco do massacre de Eldorado dos Carajás, onde forças de repressão a mando do velho Estado, para beneficiar o latifúndio, assassinou cerca de 20 camponeses. E mais recentemente, em 2017, arquitetado também pelo velho Estado, dez camponeses que ocupavam a fazenda Santa Lúcia foram assassinados na Chacina de Pau D'arco, cujas terras foram retomadas pela massa camponesa organizada pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP).

De acordo com os dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entre 2010 a 2020 ocorreram 133 assassinatos decorrentes dos conflitos da luta pela terra no estado do Pará, que corresponde a 25% dos conflitos de toda a Amazônia Legal. A cidade onde a família foi assassinada totaliza 62 assassinados em conflitos agrários nos últimos 40 anos.

Mais de 5 mil famílias camponesas foram vítimas de grilagem dos latifundiários, representando um aumento de 175% comparado ao ano anterior. No mesmo ano, segundo Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral) o estado do Pará ficou em 1o lugar no ranking das exportações de minérios entre os estados de todo o país.



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UC:APA

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