Até caminhão entra em reserva vetada ao público na Baixada Fluminense

O Globo, Ciência, p. 30 - 19/07/2013
Até caminhão entra em reserva vetada ao público na Baixada Fluminense
Para gestor da unidade, pode demorar 100 anos para que a população entenda importância da floresta

Renato Grandelle

Considerada pelas Nações Unidas um Patrimônio Natural da Humanidade, a Reserva Biológica (Rebio) do Tinguá, que concentra 8% das florestas protegidas do estado, ainda não convenceu os vizinhos de sua importância. Localizada entre os municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Miguel Pereira, a unidade de conservação tem entrada vetada para o público, a não ser para pesquisadores e estudantes com visitas guiadas e roteiros definidos. No entanto, as cercas que envolvem parte de seus 26 mil hectares não intimidam caçadores e palmiteiros.
O assédio à reserva é tamanho que já se cogitou a possibilidade de que seu status mudasse de reserva para parque nacional - o que permitiria seu acesso a qualquer visitante. O gestor da Rebio, Flávio Pereira da Silva, acredita que esta transformação pode demorar um século.
- Ainda há muitas pesquisas a serem realizadas - explica. - Seria uma temeridade abrir o Tinguá ao público. A sociedade precisa estar preparada, e isso pode demorar até 100 anos.
Uma passagem pela Estrada do Comércio, em Nova Iguaçu - a via que dá acesso à reserva -, mostra como a população ignora as limitações da Rebio. O Rio Tinguá, que nasce na reserva e escoa na Baía de Guanabara, acumula funções quando chega na zona de amortecimento da unidade de conservação, uma área onde a presença humana também deveria estar sujeita a normas.
Clubes usam as águas fluviais para piscinas. Comerciantes formam poços que servem como atração para bares, instalados em locais onde havia mata ciliar. Ribeirinhos usam o rio como depósito de esgoto.
A administração da Rebio promove fiscalizações dez dias por mês. É comum apreender armamentos a mais de 500 metros dos limites da reserva. Até um caminhão já foi encontrado.
- Já cacei muito porco e macuco na floresta - admite um morador. - Com a entrada proibida, estes animais vão procriar . Os donos da reserva perderão o controle sobre estas populações e teremos que caçar de novo.
De acordo com Silva, a desordem ao redor da reserva é responsabilidade dos municípios:
- A zona de amortecimento é de um quilômetro. A prefeitura deve organizar esta região.
Secretário de Urbanismo, Habitação e Meio Ambiente de Nova Iguaçu, Giovanni Guidone apresentará em setembro um projeto que promete um "choque de ordem" na beira do Rio Tinguá, cadastrando as ocupações ao seu redor. Desta forma, segundo ele, seria possível conter as interferências no curso do rio.

O Globo, 19/07/2013, Ciência, p. 30

http://oglobo.globo.com/ciencia/ate-caminhao-entra-em-reserva-vetada-ao-publico-na-baixada-fluminense-9093063
UC:Reserva Biológica

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