OESP, Metrópole, p. A18 - 18/03/2017
'Aqui ou é conivente ou silencia ou morre', afirma líder extrativista
Unidades foram criadas para 'os antigos soldados da borracha'; hoje, locais têm de lidar com as ameaças de morte
Giovana Girardi ,
O Estado de S. Paulo
"Aqui ou você é conivente com o crime ou se silencia ou morre. São só essas opções. Quando denuncia, não é ouvido, quando é ouvido, não é atendido." É assim que a líder extrativista Giselda Pereira Ramos Pilker descreve a situação de pressão e ameaça que enfrentam os moradores de unidades de conservação de uso sustentável em Rondônia, categoria que permite a presença de povos tradicionais, como ribeirinhos e extrativistas. O Estado, de acordo com o estudo do Imazon, é o segundo que mais teve perda de floresta em áreas que, por lei, deveriam ser protegidas.
Giselda mora na reserva de Maçaranduba, perto da floresta extrativista (Florex) estadual Rio Preto-Jacundá, a segunda na lista das mais desmatadas entre 2012 e 2015, no norte do Estado, na fronteira com Amazonas e Mato Grosso. Segundo o estudo, foram desmatados ali 31.360 hectares no período.
Ela conta que os ataques vêm de diversas frentes. "Além da retirada de madeira ilegal, que é muito grande, tem muita invasão para fazer corte raso mesmo, para depois virar sítio e fazenda. E o governo não faz nada ou muito pouco para conter essas invasões", diz.
Giselda lembra que as unidades foram criadas para garantir a permanência dos extrativistas, "os antigos soldados da borracha", que viviam ali antes de haver município, mas que hoje eles têm de lidar com ameaças de morte. "São famílias tradicionais, legítimas, que estão aqui desde a Segunda Guerra Mundial, que estão praticamente ilhadas, os invasores delimitaram o espaço da floresta onde podem morar", relata a líder extrativista.
"Em dez anos de luta aqui, vi mais de dez morrerem por essa situação. Algumas unidades estão sendo saqueadas por madeireiros. O interesse é marcar o território e depois vender", afirma. A história de Giselda foi relata no especial Terra Bruta, publicado pelo Estado no ano passado sobre mortes no campo. "Infelizmente a história só se agravou de lá para cá", conta.
O espanhol Josep Iborra Plans, ou Zezinho, que adotou a região há 24 anos, e hoje participa da Comissão Pastoral da Terra de Rondônia, lembra que só no ano passado "dez companheiros extrativistas" foram ameaçados de morte. "Conseguimos colocar sete na lista de defensores dos direitos humanos do governo federal, mas não garante muita coisa."
Procurado pelo reportagem, o governo de Rondônia questionou os dados. Segundo Luiz Claudio Fernandes, técnico da coordenadoria de geociências da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental do Estado, os limites das UCs usados pelo Imazon estão errados. No caso da Rio Preto-Jacundá, eles alegam que em vez de uma área de 1 milhão de hectares, como registrado pelo instituto, a reserva teria cerca de 10% disso, ou 101 mil hectares. E não seria uma Florex, mas uma Resex, reserva extrativista.
Elis Araújo, pesquisadora do Imazon, afirma que o governo parou de admitir a existência da Florex seis anos após a sua criação (1989). Na ocasião, foi criada uma Resex de mesmo nome em apenas 9% da área original. O governo fez isso por meio de decreto, mas o entendimento do Ministério Público do Estado é que a Florex só poderia ter sido revogada por lei específica. Do ponto de vista legal, a redução não ocorreu, por isso o estudo considerou a área original.
"O desmatamento existe, mas não na proporção que eles colocam", disse Fernandes. Para ele, apenas 5.364 hectares foram desmatados no local. "Existe uma certa invasão por roubo de madeira no local, mas não são grandes fazendeiros e a ação do estado está acontecendo."
OESP, 18/03/2017, Metrópole, p. A18
http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,aqui-ou-e-conivente-ou-silencia-ou-morre-afirma-lider-extrativista,70001704739
UC:Reserva Extrativista
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