Debate marca segundo dia de seminário de pesquisa no ICMBio
No segundo dia do VII Seminário de Pesquisa e VII Encontro de Iniciação Científica promovidos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Brasília, a mesa redonda "Ciência cidadã - Participação social na pesquisa científica" discutiu, nesta quarta-feira (16), o papel da área da conservação nas suas várias relações com a sociedade.
Três pesquisadoras - Márcia Chame, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fabiana Prado, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), e Tatiana Pogiluppi, do BirdLife/SAVE Brasil - falaram de suas experiências e apresentaram análises sobre o tema.
Bióloga pela Universidade Santa Úrsula (1982), mestre e doutora em Zoologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Márcia Chame destacou os desafios de se monitorar a saúde silvestre em países megadiversos e de grandes dimensões como o Brasil. No geral, a área de saúde ouve muito pouco áreas como a de emergências de animais silvestres.
Marcia é pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz e colaboradora da Fundação Museu do Homem Americano, além de representante do Ministério da Saúde no Conselho Nacional da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. Ela coordena o Programa Biodiversidade & Saúde da Fiocruz.
Segundo Marcia, o Brasil conta em média com 140 mil agentes de saúde, que prestam atendimentos focados basicamente na saúde da família. "Mas o que eles não veem é o espaço onde vivem essas famílias, se ela vive perto de uma unidade de conservação e que animais fazem trânsito da unidade para a comunidade, muitas vezes fazendo trocas com o meio onde as pessoas vivem", disse ela.
Ainda segundo a pesquisadora, a Fiocruz criou Centro de Informações em Saúde Silvestre (CISS), como forma de reunir pesquisadores e população e promover o diálogo sobre a ocorrência de quadros de saúde de animais silvestres no país.
Portal tira dúvidas
No portal do CISS (
veja aqui) as pessoas encontram uma série de informações, desde como lidar com morcegos que entram nas casas até assuntos mais triviais. "Sempre há um pesquisador mostrando na rede sua pesquisa, dados ou artigos relacionados àquela dúvida do cidadão", explica Chame.
A pesquisadora disse que desde que foi criado, em março de 2015, o portal mais que dobrou seus acessos. "Pesquisadores e pessoas de diferentes países querem saber soluções práticas para problemas que são comuns", frisa ela.
Outro avanço foi a construção do Sistema de Informações em Saúde Silvestre (SISS-Geo), por meio do qual qualquer cidadão pode comunicar a observação de um animal e se ele está em bom estado de saúde ou não. Para acessar o sistema,
clique aqui.
"Dependendo de como está o estado de saúde do animal pode ser disparado um alerta para que se vá à comunidade e veja se a população está protegida contra determinado tipo de doença", explica a pesquisadora.
Este sistema pode ser instalado no celular de qualquer pessoa que funcione pelo sistema andróide. A linguagem é simples e permite que uma pessoa leiga na área ambiental consiga preencher os campos referentes a determinado animal. "As perguntas são de fato numa linguagem simples tais como se o animal está sangrando, babando, se tem algum tipo de bicheira".
A partir do alerta, diz a pesquisadora, pode-se acionar a Secretaria de Saúde local, o ICMBio e até mesmo pesquisadores da região que possam se dirigir ao local e efetuar alguma coleta de material para que seja feito um diagnóstico.
Para isso o sistema conta com uma rede de participantes em saúde silvestre e de laboratórios especializados nesse tipo de análise. "Esperamos ter em dez anos modelos de previsão de doenças relacionadas a animais silvestres", explica a pesquisadora.
Capacitação em resex
Ela lembrou que, recentemente, houve curso de capacitação para uso dessa tecnologia na Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, no Pará. Numa primeira expedição foram visitadas 16 comunidades e 406 moradores. O objetivo foi discutir a relação entre saúde silvestre e saúde humana, numa perspectiva da importância da conservação da biodiversidade para a prevenção de zoonoses e emergências correlacionadas.
"Nossa proposta foi mostrar que uma floresta bem conservada é legal para a saúde de todos. Mas enfrentamos resistências pois as comunidades achavam que estávamos indo lá para proibir suas atividades", explica Chame.
Segundo ela, onze comunidades receberam 23 celulares em regime de comodato para que aprendessem a fazer o reconhecimento dos animais em campo e relatassem a condição de saúde em que se encontravam.
No total, 71 pessoas se registraram no SII-Geo. "Enfrentamos o desafio da multiplicidade de gênero, idades, entre outros fatores. Mas o mais difícil continua sendo conquistar pesquisadores para que colaborem na rede, pois o Brasil não tem essa cultura do compartilhamento de conhecimentos e saberes. Acredito que a ciência cidadã tem tudo para ser um vetor de justiça social para o país", destacou a pesquisadora da Fiocruz.
Ciência cidadã
Na sua intervenção, a pesquisadora Fabiana Prado, que é consultora de Projetos Pedagógicos do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), discorreu sobre ciência cidadã, segundo ela, um conceito não muito recente.
"Ciência cidadã é conceituada como a participação não científica na investigação científica", explicou ela, ao ressaltar que, com o advento das novas tecnologias sua aplicabilidade se ampliou significativamente, por meio de smartphones, GPS, imagens de satélite e banco de dados integrados.
O IPÊ, disse a pesquisadora, desenvolve em sete unidades de conservação da Amazônia o Projeto de Monitoramento Participativo da Biodiversidade. As unidades participantes são as reservas extrativistas Cazumbá-Iracema, Tapajós-Arapiuns e do Rio Unini, a Floresta Nacional do Jamari, os parques nacionais do Jaú e Montanhas do Tumucumaque e a Reserva Biológica do Uatumã.
Nelas, foram feitos o monitoramento básico de mamíferos de grande e médio porte, aves cinegéticas (alvo de caça), plantas lenhosas e borboletas frugívoras (que se alimentam de frutos) e complementação local em castanha, quelônios (animais com casco), caça, peixes e felinos. "Foi imprescindível o processo de articulação interna com o ICMBio, com as parcerias locais e a capacitação para a construção dos protocolos de monitoramento", disse Fabiana Prado.
Observação de aves
Outra experiência trazida para o debate foi a do BirdLife/SAVE Brasil, trazida pela coordenadora de projetos Tatiana Pogiluppi, sobre a observação de aves e como ela pode contribuir para o monitoramento das espécies por meio do Projeto Cidadão Cientista, existente desde 2014.
"A observação de aves teve início nas décadas de 70-80 e hoje o Wikiaves conta com mais de 20 mil usuários colaboradores. O desafio tem sido mostrar para os observadores de aves, que geralmente são fotógrafos, que o apoio deles nas ações de conservação das espécies é fundamental, mas vai além de um simples clique", dusse Tatiana.
Os grupos alvo com os quais o BirdLife tem interagido são os clubes de observadores de aves (COA), na Bahia, Rio de Janeiro e outros estados. "Em um ano de projeto já contabilizamos 397 espécies observadas e registradas, sendo 34 ameaçadas", listou Tatiana.
Ela aproveitou para convidar os participantes do seminário a reforçar o Global Big Day, em que observadores de todo o mundo avistam as aves e fazem os seus registros no sistema. No Brasil, já há um evento marcado para 10 de outubro, além de existir aplicativo para celular com tecnologia IOS. Saiba mais sobre o aplicativo
aqui.
http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/noticias/20-geral/6994-especialistas-discutem-ciencia-cidada.html
Amazônia:Pesquisas, Teses e Seminários
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